segunda-feira, 11 de junho de 2012

Chevrolet Camaro x Chevrolet Opala: Dias de trovão

Dois mitos. Duas épocas. O mesmo coração: um V8 Chevy. Sinta qual deles bate mais forte

O silêncio que antecede a tempestade. Quase quarenta graus centígrados. O calor do asfalto deixa a visão do horizonte turva. À minha frente, a reta de quase dois quilômetros desaparece no ponto de fuga. Minha boca está seca. Sede? Não, é a adrenalina que corre em meu sangue. Estou reclinado sobre o para-lama dianteiro esquerdo do Camaro SS, aguardando o desafiante. Um borbulhar trovejante ensurdecedor cresce na atmosfera, no mesmo ritmo da minha ansiedade. Lá vem ele!
Opala. Venceu nas pistas como poucos, serviu para a fuga para muitos bandidos, fez a alegria de incontáveis rachadores. Ainda faz. Este diabo azul rosnando ao meu lado está aqui só por uma razão: derrotar o Camaro. A matemática está ao lado dele. Cada um de seus 450 cv precisa empurrar apenas 3,06 kg. No Camaro, a relação está em 4,40 kg por cv. Vai ser difícil. Muito difícil.
Para piorar, não foi só a cor Marina Blue que este cara herdou do antigo Camaro. Sob o capô, nada de seis bocas, nada de carburação Weber 40: entre as torres de suspensão, está espremido um V8 350 Chevy preparado até os ossos. De original só tem o bloco: há mais de R$ 30 mil investidos em bielas forjadas, cabeçotes de alumínio, coletores dimensionados, comando de válvulas feito sob medida e outros anabolizantes. A marcha lenta embaralhada e ensurdecedora soa como uma tropa de choque martelando seus escudos, prestes a engolir o Transformer branquelo pelos venturis do quadrijet Holley HP – que traga somente etanol, na ordem de insanos 2 km/l. Mas, se você está pensando em consumo, não merece sequer ficar perto de um carro destes.


O primeiro raio

O Opala é intolerante a babacas. Ele pertence à época na qual o aluno tomava porrada do professor quando não se comportava direito. Por isso, apesar de precisar conhecer o meu rival, tratei-o com respeito triplicado. Pedi licença para entrar, apertei os cintos RJS de cinco pontos com carinho, liguei bomba de combustível elétrica e dei na chave.
BRAP! B-B-B-brrrr-brrrrr-B-B-BRR!! Não há onomatopeia no mundo que faça justiça ao som deste Opala em marcha lenta. Este monstro é um carro de arrancada vestido com carroceria toda em lata e interior completo. E a experiência sensorial? Ele exige força, entorpece com o cheiro de etanol, ensurdece, hipnotiza.

Cutuco o acelerador, que tem curso curto como o de um kart, e o giro sobe em um tiro – graças à taxa de compressão alta (13:1) e à geometria agressiva do comando de válvulas. Como o volante, a embreagem tem peso razoável, mas nada exagerado. O mesmo não posso falar das manias do câmbio de três marchas, herdado de um Dodge Dart SE: com acionamento por varetas, ele exige um movimento em “S” para engatar a primeira (que fica para trás, como nas antigas Ferrari) e a segunda marcha fica logo ali, próxima ao radiador.
O embaralhamento do V8 5.7 só se transforma próximo aos 3.000 rpm, quando ele entra na área de atuação para a qual o comando de válvulas foi projetado. Neste momento, o ronco fica liso, implorando para que você pise fundo, liberando o segundo estágio do quadrijet e quebrando o seu pescoço em dois. O poder de retomada deste carro é ridículo. O Camaro está em maus lençóis.

Ao sair do carro, pergunto para Fernando Demarco, dono e responsável por este projeto diabólico, qual é a rotação que ele vai largar: “se tudo der certo, largo a embreagem a 6.200 rpm”. Naquele momento, tive a certeza de que não teria absolutamente a menor chance.

A hora da verdade

Com as mãos suadas, entro na cabine intimista do Camaro. Teto baixo, capô longo, bancos confortáveis revestidos de couro, ar condicionado. Dou a partida, mas preciso me certificar olhando para o conta-giros: o Opala não me deixa ouvir meus próprios pensamentos.
Coloco o câmbio automático no modo “S” e aperto a borboleta esquerda para ligar o modo manual. Me preparo psicologicamente para ser humilhado nos primeiros quinze metros: não dá pra competir contra pneus de arrancada amparados por sistema de suspensão four link – projetado por João Luiz Martins, da Xtreme Garage.
 O céu volta a ficar azul. Mas esta foi apenas a primeira tempestade. O Opala vai voltar para a academia e malhar ainda mais: câmbio de quatro marchas Muncie, diferencial mais curto e nitro já estão prontos para serem instalados. Por enquanto, o Camaro desfruta dos louros, desfilando na Rodovia dos Bandeirantes, hipnotizando crianças de oito a 80 anos – e uma bela garota que calha de ser piloto de Indy. Não perca o teste da Bia Figueiredo, com este mesmo Camaro, na edição nº 53. E eu, tremo no aguardo da vingança do Opala.

Fonte: CarandDrive
           por Juliano Barata / Fotos: Marcos Camargo






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